Pesquisa livre

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9º Congresso Mundial de Informação em Saúde e Bibliotecas

Salvador, Bahia - Brasil, 20 a 23 de setembro de 2005

BVS4

4ª Reunião de Coordenação Regional da BVS

19 e 20 de setembro de 2005

28/09/2005

Equidade na produção e consumo de informação científica (painel 5)

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Apesar de ser uma das principais estratégias para garantir o acesso à informação, o Open Access ainda não está contribuindo de fato para a melhoria da qualidade de saúde dos países em desenvolvimento. O abismo que separa os países ricos e pobres se reproduz nas publicações científicas, pois ainda é preciso grandes saltos, com o estimulo à produção e acesso a produções científicas nacionais

No quinto painel do ICML9, A comunicação científica – Open Access, os conferencistas destacaram a importante contribuição das bibliotecas virtuais que promovem acesso livre para a disseminação do conhecimento científico. Mas alertaram também para a busca pelo equilíbrio da publicação de trabalhos locais, nacionais e internacionais. “É de extrema importância a criação de uma estrutura de produção científica que integre os fluxos nacionais e internacionais de informação, afirmou Abel Packer, diretor do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME/OPAS/OMS).

 

Em sua apresentação, Packer apresentou resultados da cooperação técnica da BIREME na América Latina, como a criação da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), da Scientific Eletronic Library Online (SciELO) - coleção de jornais científicos em texto completo - ; e a ScienTI, que provê suporte para gestão de currículos de pesquisadores. 

Mas apesar de extrema importância, o acesso a estas redes de informação não vai melhorar as condições de saúde dos países em desenvolvimento se não houver pesquisas que retratem a realidade local de sua população.

 

César Victora, professor de Epidemiologia do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Pelotas (RS/ Brasil) apresentou dados alarmantes de mortalidade infantil em todo o mundo. São 10, 7 milhões de crianças menores de 5 anos mortas todos os anos por causas neonatais, diarréia, malária e pneumonia, tendo a desnutrição como fator subjacente em 52% delas. “Para reduzir a mortalidade infantil não é necessário o desenvolvimento de novas tecnologias, mas fazer com que estas crianças e suas mães tenham real acesso às tecnologias que já existem”, afirma César.

 

De acordo com o pesquisador, quatro intervenções simples e de baixo custo seriam capazes de reduzir cerca de seis milhões de mortes (63% dos casos). “Aleitamento materno (13%), hidratação oral/soro caseiro (15%), antibióticos (17%) e mosqueteiros impregnados de inseticidas (7%), que custam apenas U$3 dólares. “Mas os principais financiamentos para a pesquisa científica estão voltados para doenças da moda ou do primeiro mundo. Por isso, é preciso que haja equidade na produção da informação e não apenas no acesso, garantindo que pesquisas como estas, sobre a causa de morte de crianças, sejam divulgadas e aplicadas”, completou.

 

Para o professor de Literatura Comparada da Universidade de Montreal, Jean Claude Guedon, que fechou este painel, “a produção científica dos países ricos é como uma estrela de cinema de Hollywood. Maravilhosa e de excelência, mas inacessível”. Assim, talvez a idéia subjacente a este quinto painel seja a existência de um outro e talvez ainda mais importante desafio: para além da promoção do acesso a estas grandes estrelas, o importante é valorizar os artistas nacionais. Ou seja, os cientistas e pesquisas que retratem os problemas das comunidades locais